quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Locomotiva


Já na estação a locomotiva,
Pesada e enorme, sua aflitiva
Óleo de oliva.
Arfa, ofega e fogo bufa,
Da sua pança que treme e rufa:
Uf, que calor!
Puf, que calor!
Uh, que calor!
Puh, que calor!
Já mal respira, quase suspira,
Vem o fogueiro e carvão lhe atira.
Tantos vagões a ela engatados!
De ferro e aço, grandes, pesados!
E há muita gente em cada vagão,
Um tem cavalos, outro um vacão.
E no terceiro, só barrigudos
Que vão comendo paios chorudos.
No quarto, viajam muitas bananas.
No quinto, sete harpas romanas.
No sexto, um canhão, que impressionante!
De rodas grandes, rodas-gigantes!
Sétimo – mesas e dez armários.
Oitavo – ursos e dromedários.
No nono – porcos gordos, cevados.
No vagão dez – cem baús fechados.
Quantos vagões! Mais de quarenta!
E nem eu sei o que mais lá entra.
Mesmo que viessem uns mil atletas
E que comessem mil costeletas,
Nem que pusessem a força toda,
Não moveriam nem uma roda.
Pia o apito!
Silva o silvito!
Voa o vapor!
Rodas, andor!

Como tartaruga, primeiro lentinha,
Já mexe, chameja, com sono, na linha,
Puxa os vagões e torce-se toda,
E roda que roda, vai roda após roda,
O passo acelera e corre depressa,
Já bate e com pressa, travessa a travessa.
Pra onde? Pra onde? Pra onde? Pra lá!
Prò porto, prò porto, prò porto, e já!
Por vales, por montes, por túneis, prò mar,
Depressa, depressa pra não se atrasar,
A trote atravessa, o compasso não troca,
Com um baque que bate, com um toque que toca.
Ligeiro artefacto rolando com tato,
Como uma bolinha, não ferro compacto,
Nem peça pesada, nem mera sucata,
Mas jogo, joguete, brinquedo de lata.

Mas de onde, mas como, porque corre e vai?
O que é que, o que é que, o que é que a atrai?
Que roda, que rola, que bufa, buf-buf?
É pelo vapor que a puxa, puf-puf!
Que vai da caldeira direto aos pistões,
E mexe as rodas com palpitações,
E correm, e empurram, e o comboio avança,
Já sopra com força o fumo que lança,
E batem as rodas e um toque retoca,
Com um baque que bate, com um toque que toca!…


(Tradução de Gerardo Beltrán e José Carlos Dias)

2 comentários:

  1. Paios chorudos?
    Oiçam lá, quem são vocês? Tuwim? E eu que pensava saber algo da poesia polaca... Esse Beltrán é o que traduziu a maravilhosa Szymborska em espanhol?
    As bananas e harpas romanas, mais os legos do desenho já me estão a criar cá uma água na boca...
    Jorge

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  2. Parabens pelo lindo trabalho de traducao. Embora nao traduzido 100% fiel ao original, mantem tudo o que o original tem de bom como poesia infantil: a melodia, o ritmo, e o tema - alem da quantidade de imagens para estimular a imaginacao dos mais pequenos. Esta la tudo.

    Uma pequena ilustracao do quanto a traducao esta "no ponto".

    Os meus filhos, luso-polacos, que sabem o original de cor e salteado, hoje ouviram pela primeira vez o poema em portugues. Assim que comecei, o mais novo (de dois anos) foi a correr buscar o livro do poema em polaco, que logicamente ca em casa figura em varias edicoes com diversas ilustracoes.

    A meu ver e tratando-se de poesia para criancas, o objectivo foi atingido com esta traducao.

    Duarte

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